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O duplo expediente de trabalho do jornalista

Opinião | Sábado, 22 de Maio de 2010 - 21h04 | Autor: Gerson Luiz Martins
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Fato usual e corriqueiro no mercado de trabalho dos jornalistas é a dupla jornada de trabalho. Em cada 10 jornalistas em atividade, pelo menos quatro tem dupla jornada de trabalho. A legislação que regulamenta a profissão do jornalista determina que a jornada de trabalho seja de cinco horas com a possibilidade de mais três de horas extras. Esse fato permite que o jornalista possa atuar em duas empresas, ou de duas ou mais formas de atividade. Em princípio essa situação não é condenável e tampouco inflige o Código de Ética profissional. Até certo ponto! Quando a dupla jornada de trabalho se caracteriza por atividade em redação jornalística e a outra em instituição comercial ou pública na função de assessor de comunicação ou assessor de imprensa, a dupla jornada inflige diretamente o Código de Ética de acordo com o artigo 7º, inciso VI.

Na realidade local, esse fato é contumaz. Há vários jornalistas que atuam na redação de jornal, TV, rádio ou internet que ao mesmo tempo exerce a função de assessor de imprensa (ou comunicação) em órgãos públicos ou empresas privadas. Essa situação, conforme citado anteriormente, é, no mínimo, antiética. Qual é a isenção, o compromisso com a verdade, a responsabilidade social desse jornalista no trabalho como repórter, redator ou editor com esse duplo vínculo? Como poderá esse repórter cobrir com precisão, eticamente as pautas que tratam direta ou indiretamente das questões que envolvem a instituição assessorada?

Muitos poderão afirmar que esse repórter não trabalha em pautas que tratam das questões relacionadas à instituição que assessora. No entanto, que garantias a população tem se esse repórter não irá influenciar, no âmbito da redação, as pautas que tratam de assuntos relacionados ao assessorado? Em síntese. Eticamente não é possível, não admissível que o repórter possa atuar dessa forma. Em outras palavras, “é servir a Deus e ao diabo ao mesmo tempo”. Está comprometido. Não haverá isenção. Perde-se o maior patrimônio de um jornal, telejornal, ciberjornal que é a credibilidade.

Infelizmente essa não é a única faceta da situação. Deve-se perguntar por que um jornalista aceita essa dupla jornada em situações eticamente reprovadas? E a resposta imediata se traduz na baixa remuneração recebida nas redações. Do lado das assessorias, os salários são, normalmente, vantajosos, expressivos. No entanto, ninguém quer ficar apenas na assessoria, o “sangue” da reportagem, o “calor” da apuração o impede de sair da redação. É lá que ele encontra sua satisfação profissional, sua realização pessoal.

E ainda, o trabalho nas assessorias, principalmente na área pública ou política, é sempre um trabalho temporário, circunstancial. Se o vereador, deputado, prefeito, governador perder o mandato, provavelmente, por melhor profissional que seja, o jornalista perderá seu trabalho. Todos sabem que esse “bom salário” é temporário. Sua renda, seu trabalho efetivo vem da redação.

Para conseguir melhores condições de trabalho, melhores salários é necessário a valorização profissional, que se traduz na qualificação do jornalista seja no aspecto da formação universitária específica, seja no aprimoramento por meio de cursos, até mesmo de pós-graduação e, por fim, um reforço corporativo dos profissionais, processo natural em qualquer área profissional.

Nesse aspecto, é importante lembrar da atuação da corporação, por meio do sindicato dos jornalistas, em prol da criação do curso de jornalismo na UFMS. Se não houvesse essa mobilização, mesmo contrária a todas as tendências dos conselhos da UFMS naquele momento, não haveria hoje um curso que qualificou inúmeros jornalistas reconhecidos em todo país, como exemplo Rubens Valente e Jairo Marques na Folha de S.Paulo e ainda Veruska Donato na Rede Globo, entre outros.

Neste ano o Curso de Jornalismo da UFMS comemora 20 anos de atividade. Há 20 anos a maioria dos profissionais em atuação não tinha formação universitária em Jornalismo. Hoje, a realidade é inversa. A maior parte dos profissionais são qualificados nos cursos universitários de jornalismo. Há nítida preferência dos empresários pelos profissionais egressos dos cursos de Jornalismo.

É preciso ter consciência e clareza da posição estratégica do profissional do jornalismo para a consolidação democrática do país e a necessidade da formação científica, técnica e humanística realizada unicamente pelos cursos universitários de jornalismo.


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