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Lição para uma reportagem

Opinião | Domingo, 14 de Novembro de 2010 - 14h08 | Autor: Gerson Luiz Martins
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Há algumas semanas o Departamento de Jornalismo da UFMS promoveu, junto com o Instituto Vladimir Herzog, uma palestra com o jornalista José Hamilton Ribeiro. O repórter ficou conhecido, na década de 60, como um dos jornalistas de guerra, quando fez a cobertura da Guerra do Vietnã para a revista Realidade. Na ocasião, José Hamilton Ribeiro ficou gravemente ferido quando uma mina explodiu próximo ao Batalhão em que estava ancorado para fazer a reportagem. Esse fato virou manchete dos principais jornais e revistas brasileiras daqueles dias. Por causa de sua obstinação pela notícia, foi muito premiado, acumulou, entre outros troféus, sete prêmios Esso de Reportagem, o Prêmio Personalidade da Comunicação 1999. Autor de quinze livros derivados de suas reportagens, o primeiro foi "O Gosto da Guerra", em função da reportagem sobre a Guerra do Vietnã, que fez para a revista Realidade em 1968, ocasião em que perdeu uma perna ao pisar numa mina terrestre. Entre as redações por onde passou, estão as das revistas Realidade e Quatro Rodas, do jornal Folha de S. Paulo e dos programas Globo Repórter, Fantástico e Globo Rural, de onde é repórter e editor. Em 1983, ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos por uma reportagem sobre a seca do Nordeste. Em 1985, outra reportagem sua, sobre os cortadores de cana de Barrinhos, em Ribeirão Preto, ganhou o Vladimir Herzog de jornalismo.

Na palestra que realizou na UFMS, José Hamilton Ribeiro falou sobre a produção de um grande reportagem. Com um viés humorístico, perfil que o identifica há alguns anos, o repórter da guerra contou anedotas que, de certa forma, ilustram sua carreira como repórter na área rural. Não obstante a tantas piadas, Ribeiro falou muito sério sobre como fazer uma grande reportagem. Até mesmo ensinou uma fórmula para produzir a grande reportagem. Segundo o repórter, para produzir uma grande reportagem é necessário um bom começo, um bom final e muito talento. Talento que não acontece naturalmente, não é nato, precisa ser desenvolvido. Nesse aspecto, reafirmou a importância da formação universitária em jornalismo, mesmo que nunca tenha feito um curso de jornalismo, sensibilidade que o torna um mestre do jornalismo. Como talento, enfatizou a necessidade de dedicação aos estudos pelos futuros jornalistas, principalmente qualificou a pesquisa como condição imprescindível para o bom jornalismo, para uma boa reportagem.

Sobre a pesquisa, também destacou a precisão, o rigor e o equilíbrio na apuração das informações, da notícia. E por fim falou de ética, da ética jornalística que não é mesma do cidadão, ética jornalística que determina liberdade para produzir a notícia e responsabilidade na apuração e difusão das informações. O jornalista criticou a forma de se fazer jornalismo atualmente. O fluxo incessante e rápido na produção da notícia torna precária a atividade jornalística e, portanto, a perda de credibilidade, pois os fatos não são relatados como são, mas, muitas vezes, sob a ótica do editor ou do proprietário da empresa jornalística. E como sempre, em períodos eleitorais, as empresas assumem sua linha político-editorial. Danton Jobim, uma dos mais importantes jornalistas na história do Brasil fez muitas críticas à falsa modéstia das empresas jornalísticas que não assumem sua identidade politica e ideológica, como acontece na imprensa norte-americana. Seja no período eleitoral ou não, os jornais, as empresas jornalísticas dos Estados Unidos publicam cotidianamente sua opção politica e ideológica. Nos períodos eleitorais, optam claramente por estou ou aquele candidato. E, é importante que se relate, numa escola de jornalismo – Estados Unidos - que impõe a objetividade como linha mestra da produção da notícia.

O talento para um boa reportagem também não se define como o talento pela escrita, é muito mais do que isso. O talento para uma boa reportagem, uma grande reportagem, segundo José Hamilton Ribeiro, se define pelo aprendizado, pela técnica, pela astúcia, por um trabalho metódico de pesquisa. Trabalho este que não quer dizer, em muitas ocasiões, um caderno com fórmulas mágicas como deixou muito claro na palestra quando apresentou a fórmula da grande reportagem. Talento quer dizer simplicidade e humildade para buscar conhecimento. Com um gosto todo especial e um talento para contar “causos”, Ribeiro costuma ditar conceitos que ele considera de um humor refinado para que se possa ler nas entrelinhas e compreender sua trajetória. Numa pergunta, rotineira, sobre como ser um bom repórter ou ter uma boa reportagem, José Hamilton responde: "Responderei com uma receita de bolo: vaidade, ambição profissional e espírito de aventura. Aliado a isso, somam-se outros dois ingredientes. A necessidade que o repórter tem de estar onde os fatos acontecem, sendo testemunha ocular da história, e a oportunidade de denunciar a injustiça social e o abuso do poder".


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