Serviço público e a exigência do diploma de jornalismo

Opinião | Sexta-feira, 23 de Julho de 2010 - 16h37 | Autor: Gerson Luiz Martins


Campo Grande e o Mato Grosso do Sul são os primeiros entre estados e municípios na regulamentação no que se refere a exigência do diploma para o exercício profissional de jornalismo. No último dia 9 de junho a Câmara Municipal de Campo Grande aprovou projeto de lei do presidente da casa, vereador Paulo Siufi, que institui a obrigatoriedade da formação universitária em Jornalismo para os candidatos à essa função da esfera do poder público municipal.

Anteriormente, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul também aprovou projeto dessa natureza, no âmbito do pode público estadual. Essas decisões, que agora aguardam as sanções do prefeito Nelson Trad Filho e do governador André Puccinelli respectivamente, compatibilizam a qualificação dos profissionais em exercício nos quadros do poder público municipal e estadual.

Em outras palavras, assim como é necessário a formação universitária específica para o exercício profissional do médico, do advogado, também é necessário que os assessores de imprensa tenham, minimamente, o grau universitário específico em jornalismo. As decisões da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa valorizam a importância da profissão de jornalista e sinalizam para a transparência, a qualidade, a ética de todos as informações que as respectivas casas devem oferecer para a população. Também sinaliza que as empresas privadas, se querem ter credibilidade, qualidade, transparência, honestidade e integração com a comunidade devem admitir em quadro funcional exclusivamente jornalistas que tenham a formação universitária em jornalismo.

Dispensável afirmar a importância da comunicação, da informação, da difusão da informação no limiar do século XXI. Com o crescimento vertiginoso da internet, há mais de uma centena de informações falsas difundidas a cada minuto. Andrew Keen, no livro “O Culto do Amador” demonstrou claramente os riscos e o perigo das informações difundidas de forma imatura, irresponsável e, muitas vezes, de forma caluniosa que se propagada na internet todos os dias.

Nesse aspecto, é importante ressalvar o terreno complexo que é a internet. Facilmente os “amadores”, como destaca Keen, difundem milhares de informações na rede. Essas informações, registradas, documentadas a partir do momento que alguém imprime alguma dessas páginas, se tornam provas em qualquer processo jurídico. A imaturidade com que muitos adolescentes, e muitas vezes adultos, com uso do anonimato, de perfis falsos, principalmente nas redes sociais, como orkut, facebook e outros, caluniam e difamam pessoas sem qualquer sentido e sem qualquer comprovação de fatos. Essa situação se torna mais grave quando difundida por profissionais jornalistas e até mesmo estudantes de jornalismo. A ética jornalística, principal patrimônio dos profissionais desta área, se torna algo sem sentido onde o caos e o desrespeito ao cidadão imperam. Ou seja, o profissional que deveria zelar pelo cidadão, se transforma, ele, no agente da calúnia e do caos.

É no serviço público, principal fonte das informações dos meios de comunicação, onde o fato se agrava. A civilidade, a cidadania são massacradas extintas, pois o profissional do jornalismo não respeito seu próprio código de ética e muitos menos os preceitos mais sagrados da profissão. O dever público de informar a população, prestar contas das ações dos representantes da população no legislativo, no executivo ou no judiciário não se realiza, pior ainda, a informação difundida é distorcida em prol de um sofisma.

A atitude dos deputados e dos vereadores ao aprovar o projeto de lei que institui a obrigatoriedade da formação universitária específica para o exercício do jornalismo sinaliza para a seriedade e a boa intenção na transparência das atividades dessas duas casas, principalmente na construção da credibilidade, elemento essencial para a consolidação democrática de um povo. O dever de cidadania dos jornalistas que atuam nessa esfera profissional está acima das melhores ou piores ações dos parlamentares.

O profissional jornalista que atua no poder público, principalmente no legislativo, deve primar pela ética, pelo cidadania e pela transparência. Não obstante receba pressões de seus superiores, representados pelos inúmeros deputados e tantos vereadores, o jornalista tem o dever de difundir à população fatos e dados que demonstrem a eficácia no uso do dinheiro público, principalmente destinado a promover ações que melhorem a qualidade de vida das pessoas.




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