O futuro da comunicação e da internet

Opinião | Domingo, 14 de Novembro de 2010 - 14h32 | Autor: Gerson Luiz Martins


Todas as vezes que se faz uma reflexão sobre a situação da internet no Brasil é sobre as falhas e problemas que existem, principalmente a ganância das empresas e como elas precarizam o fluxo da rede. Ou seja, se na Europa e Estados Unidos, assim como no Japão, as conexões atingem facilmente 60, 100 MB de velocidade, no uso residencial; no Brasil isso é uma ficção, conexões residenciais, nos planos mais comuns, têm velocidades inferiores a 1 MB; velocidades superiores, como 20MB têm preços impraticáveis para o usuário doméstico, mais de R$ 400,00. Em termos de acesso à internet banda larga estamos muito distantes da realidade norte-americana ou europeia. Mesmo que o crescimento da internet no Brasil esteja entre os cinco primeiros, em situação não muito distante dos países europeus ou dos Estados Unidos, quando se trata da conexão ainda somos um país do terceiro mundo.

Não obstante a isso e pensar no futuro das comunicações, é interessante refletir sobre a realidade e o que seria se fosse diferente. E se o país tivesse acesso popular à internet banda larga em velocidades médias de 100MB? E não somente isso, mas também que a penetração da banda larga fosse disseminada! Sempre se fala, os jornais noticiam o crescimento da internet no país e as facilidades que a rede proporciona. No entanto, há ainda em muitas residências, escolas, órgãos públicos acesso à internet por meio da conexão discada, pela linha de telefone comum, não banda larga.

Um artigo sobre este assunto, publicado na edição de setembro da Revista da TAM, trata do avanço da internet banda larga e cita Gerd Leonhard, considerado, pelo jornal The Wall Street, um dos principais pensadores sobre o futuro da mídia. Segundo esse artigo, o futuro da internet e o gerenciamento da rede estão diretamente relacionados à compreensão sobre a economia na internet, “entender como as pessoas estão fazendo suas transações por meio da rede”.

Na realidade que vive o Brasil, segundo Leonhard, “quando passarmos a ter 20% a 25% de penetração de banda larga no planeta – o que pode ocorrer em três anos -, o modo de fazer negócio e de se comunicar mudará para sempre”. Leonhard menciona também o crescimento da conexão móvel. O futuro da internet está nas conexões móveis, pelos telefones celulares e equipamentos como o iPad da Apple. Ele recomenda ainda que os governos pensem seriamente sobre a redução de impostos e o investimento em infraestrutura. No entender de Leonhard, os países devem acabar definitivamente com os impostos sobre os serviços de banda larga.

Essa perspectiva redimensionará as relações entre as pessoas, promoverá acesso irrestrito aos conteúdos da rede. Neste aspecto é importante destacar a implantação de acesso a internet banda larga, via rede sem fio, implantada recentemente pela Prefeitura de Campo Grande. Apesar de poucos espaços disponíveis, é uma iniciativa que merece destaque. Entende-se que este é o caminho e que o poder público deve, a curtíssimo prazo, estender e ampliar os centros de acesso sem fio. Qualquer computador portátil adquirido, hoje, a preços acessíveis, tem, na configuração original, acesso à rede sem fio (wireless).

Um outro dado apontado na reflexão de Gerd Leonhard trata do custo para oferecer conteúdo na rede. Conteúdo que se transformou num gargalo, pois há de tudo, há informação sobre qualquer assunto, sobre qualquer coisa. Há informações confiáveis e há também milhares, milhões de informações falsas, não confiáveis. Para se ter conteúdo fiável é preciso remunerar profissionais qualificados para produzi-los. E quem paga a conta? Segundo Leonhard, a conta será paga com informação, “dados e informações pessoais serão uma forma de pagamento”. Isso parece assustador, pois não é! Dados e informações de milhões de pessoas estão hoje disponíveis para empresas como o Google, por exemplo. Todas as vezes que as pessoas fazem algum tipo de cadastro na internet, abastecem os banco de dados de centenas de organismos que “comercializam” essas informações, mesma aquelas que são privadas são comercializadas no espaço de suas organizações – o Google, por exemplo, tem várias empresas, várias ferramentas que compartilham os dados de seus usuários -, ou então informações pessoais, mas públicas. A grande questão colocada por Leonhard é: “O que fazer para meu produto estar na mente das pessoas certas e merecer a atenção delas?” Esta é o principal objetivo de milhares de organizações, colocar sua instituição, empresa, produto na mente das pessoas.

As empresas, os produtos, as instituições estarão na mente das pessoas, dos consumidores desde que tenham conteúdos interessantes, envolventes. E para isso é preciso pagar, tem custo. Esse custo não pode ser cobrando diretamente do internauta. Esse custo será pago por meio dos bancos de dados. Ou seja, como afirma Gerd Leonhard “dados e informações pessoais serão uma forma de pagamento. Na verdade, elas serão o petróleo da nova era, baseada na comunicação”.



www.gersonmartins.jor.br



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