Linguagem do Ciberjornalismo

Opinião | Quinta-feira, 27 de Outubro de 2011 - 15h54 | Autor: Gerson Luiz Martins


É importante esclarecer ao leitor, e mais apropriadamente aos leitores que tem interesse neste tema, que cada meio de comunicação, cada mídia tem uma linguagem própria, uma forma específica para produção, para escrever uma notícia, uma reportagem. O jornalismo impresso, jorna-papel, tem uma estrutura própria de texto, de narrativa para que possa ser compreensível pelos leitores. A estrutura do texto do jornalismo impresso é, por assim dizer, a mais tradicional e a que recebeu mais estudos e pesquisas ao longo de mais de 200 anos. Desde que há jornal impresso, há estudos sobre as formas de fazer jornalismo. O produto que a população recebe diariamente não é algo produzido de forma instintiva ou aleatória. Tem uma linguagem, tem uma estrutura, tem objetivos, tem uma ideologia.

O mesmo ocorre com a linguagem no telejornalismo, no radiojornalismo e agora no ciberjornalismo. São características, propriedades, estruturas de produção como apuração, checagem, edição e distribuição que determinam as características, cuja finalidade básica é se tornar mais compreensível aos leitores. Pense o leitor se o seu telejornal tivesse uma estrutura, uma formato de texto que fosse o mesmo do jornal impresso. Por certo, as notícias não seriam facilmente compreensíveis. Outro fator que determina as diferenças de produção jornalística diz respeito às características de cada mídia. A TV, por exemplo, tem ao seu dispor as imagens, os recursos visuais que facilitam a compreensão da notícia e valorizam sua credibilidade. O ex-premier da Líbia foi morto dessa e daquela forma e o telejornal demonstra como isso ocorreu, não fica apenas no relato narrativo.

Dado que estamos numa sociedade onde a imagem é sobrevalorizada para as relações entre as pessoas, para a compreensão do mundo e para a busca do desenvolvimento pessoal e familiar, as mídias que usam esses recursos tem mais chances de obterem uma audiência ampla quantitativamente. Nesse aspecto, o jornal impresso perde em sua difusão. E não há necessidade de profundas reflexões para entender isso, basta que pesquisemos o nível de leitura dos jornais impressos nos últimos 10 anos. No início da década de 90 do século 20, o jornal Folha de S.Paulo tinha uma tiragem de mais de um milhão de exemplares. Hoje, esse mesmo jornal, tem uma tiragem 200 mil exemplares. Foi uma queda muito acentuada. Não há números exatos da tiragem dos jornais locais, até mesmo porque esta informação está diretamente ligada à inversão publicitária. Quanto mais jornais imprime a empresa jornalística, maior investimento publicitário receberá.

Os cibermeios tem uma situação especial no universo da produção jornalística. Os cibermeios conjugam, no mesmo espaço, texto, imagens, vídeos, áudio e outras possibilidades, que determinam uma característica de linguagem muito particular e, mais, em expansão contínua dado ao desenvolvimento acelerado das tecnologias da informação e da comunicação. Também o advento de inúmeros formatos de equipamentos que podem reproduzir os cibermeios fortalecem e ampliam as possibilidades do ciberjornalismo. Até pouco tempo, as pessoas liam notícias, informações em telas de computadores conectados a internet. Hoje, se pode ler notícias, informações e outros dados nos celulares e, nos últimos meses, nos tablets. Qual será a próxima tecnologia para difusão da informação e do conhecimento?

Com todo este aparata de possibilidades e de tecnologias, o ciberjornalismo tem uma linguagem específica e complexa. Exige conhecimento amplo de informática para desenvolver as narrativas no ambiente web. Para citar um exemplo, o leitor poderá verificar a complexidade da produção de um infográfico. Pode-se sugerir um vídeo de infográfico produzido sobre a história do iPhone, no endereço http://vimeo.com/30195371. O jornalista que produz para a internet deve ter noções de produção em vídeo, áudio, técnica gráfica, entre outros. A riqueza das possibilidades da linguagem do ciberjornalismo também impõe uma complexidade de informações para quem produz a notícia. Complexidade que, para o leitor, se transforma num clique ou num toque que facilite a compreensão da informação disponibilizada.

Estas observações sobre a diferentes linguagens empregadas nas mídias implica que não há jornalismo se cada meio, cada empresa jornalística não emprega suas próprias características para difusão da informação. Há muitos anos, o apresentador do noticiário no rádio utilizava um jornal para “ler” as notícias no microfone; depois de algum tempo esse mesmo apresentador tinha na sua frente um monitor de TV sintonizado nos telejornais 24 horas; agora esse mesmo apresentador “lê” no microfone da emissora de rádio as notícias publicadas nos diversos ciberjornais! E isso não ocorre somente no rádio.



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