Internet no celular e o roubo de dados

Opinião | Quinta-feira, 04 de Agosto de 2016 - 15h29 | Autor: Gerson Luiz Martins


Há pouco tempo os telefones celulares chegaram para facilitar a vida das pessoas que necessitam de comunicação rápida e instantânea em qualquer lugar. No início, os telefones serviam exclusivamente para realizar e receber chamadas de voz. Nesse tempo, para os mais incrédulos de tecnologia, era um absurdo portar, carregar um telefone na cintura da roupa ou dentro das bolsas femininas. Por que as pessoas tinham que estar o tempo todo disponíveis para fazer chamadas telefônicas? O celular se popularizou e hoje, com os chamados smartphones, sim escrito no formato itálico, pois se trata de uma palavra estrangeira que ainda não foi incorporada no dicionário português utilizado no Brasil, como, por exemplo, foi “abrasileirado” a palavra, também de origem inglesa release, para denominar os boletins das assessorias de comunicação e que hoje, incorporado ao dicionário português se escreve relise; os celulares fazem de tudo e, em raras vezes, também realizam e recebem chamadas telefônicas de voz.

O celular é um mundo nos bolsos – ou como queiram muitos, ainda na cintura da roupa – e nas bolsas femininas que proporciona, por meio do acesso à internet, conexão com as pessoas das mais distantes localidades, entretenimento, serviços das mais variadas formas e usos, informação de todos os tipos, sejam jornalísticas ou “conversas de portão”, aproxima pessoas distantes, recupera e estreita laços familiares, auxilia no planejamento das atividades diárias e uma série de incontáveis recursos. Essa realidade fez com que o telefone celular se tornasse prioritariamente um transmissor e receptor de dados e muito pouco de voz. As pessoas compram os aparelhos, as linhas telefônicas e assinam pacotes de serviços das operadoras, das empresas de telefonia celular que privilegiam os dados, a velocidade e amplitude de acesso à internet. O pacote de telefonia de voz é um complemento. O que foi o principal motivo para as pessoas possuírem um telefone – falar – hoje é um complemento nos atuais aparelhos. Muitas pessoas se comunicam pelos mensageiros de texto, como o WhatsApp, e não são capazes de falar, transmitir a sua voz para os familiares e amigos.

As empresas de telefonia contabilizam a prestação de serviços, cobram, naturalmente pelo tráfego de voz e de dados. Quando se trata da transmissão de voz, essa contabilização é medida pelo tempo que a pessoa falou. O que é pertinente, o tempo da conversa, o tempo da fala. É uma medida facilmente controlada pelo usuário que pode, independente da operadora, medir o tempo que falou pelo telefone com seu pai, mãe, irmão, qualquer pessoa. Esta é uma parte muito pequena dos serviços atuais da telefonia celular. A maior parte está inerente à transmissão de dados, ao uso da internet nos aparelhos atuais. Da mesma forma, todos adquirem, assinam um pacote de serviços que delimita a quantidade e a velocidade da transmissão de dados que necessitam ou vão utilizar. No entanto, neste caso, não é possível para o consumidor medir o quanto de dados utilizou. A medição e, portanto, a cobrança, é unilateral.

Somente a prestadora do serviço tem esse controle. As empresas oferecem aplicativos nos celulares que podem medir a quantidade utilizada, ainda assim é a empresa de telefonia que apresenta a conta. A experiência mostra que esse controle da operadora é bizarro, os aplicativos são instáveis, irregulares e de certa forma manipulado pelas empresas.

Com as bênçãos da Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel, que deveria fiscalizar a qualidade do serviço, as empresas cortam os planos de dados e oferecem complementos, que também não há controle externo, a preços absurdos. E isso se torna, a cada dia, numa fonte de lucratividade e exploração do consumidor que não consegue controlar a relação serviço e o que paga pelo mesmo.

Jornalista e pesquisador do PPGCOM/UFMS e Ciberjor
gerson.martins@ufms.br



www.gersonmartins.jor.br



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