Espírito de classe para jornalistas

Opinião | Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014 - 10h40 | Autor: Gerson Luiz Martins


Os cursos universitários de jornalismo passam atualmente por situações diametralmente opostas. De um lado reina o caos e de outro experiências de sucesso e, consequentemente, da rápida e facilitada inserção no mercado de trabalho. A profissão de jornalista experimenta sua pior crise. Os baixos salários, a concorrência irregular de inúmeros trabalhadores desqualificados aliada à precariedade da formação acadêmica e profissional são elementos importantes para configurar o quadro atual do perfil profissional dos jornalistas.

Sem qualquer dúvida, o agravante da situação é a ausência do espírito de corpo, ou corporativismo como muitos preferem nominar, os profissionais de jornalismo, embora se integrem e compartilhem fontes e métodos de trabalho, mas quando se trata do desenvolvimento de sua atividade, de sua profissão são egoístas, não trabalham em equipe, não se agrupam ou se reúnem. De certa forma, o ensino, as escolas de jornalismo são responsáveis por essa situação. A ênfase no grupo de trabalhadores jornalistas, nas normas profissionais, na ética jornalística é insuficientemente trabalhado nos cursos de jornalismo. Uma pergunta que sempre se pode fazer é "quantas vezes um estudante de jornalismo esteve, ou se mesmo conhece o instituto representativo dos jornalistas, no caso do Brasil, o Sindicato dos Jornalistas ou a Federação Nacional dos Jornalistas, pois que, infelizmente, não existe ainda o Conselho profissional dos jornalistas como ocorre em outras profissões.

Os profissionais jornalistas estão sempre, e isso foi repetido inúmeras vezes, em defesa das várias outras classes profissionais, mas se esquecem de defender a sua própria classe. O jornalismo é, sem qualquer dúvida, uma atividade estratégica para uma sociedade democrática, o jornalista é um profissional essencial para a sociedade, para a população. É preciso anunciar que o salário médio de um jornalista é de R$ 1.500,00. Se se trata de um profissional essencial para a sociedade, se a atividade é imprescindível para a democracia, por que um jornalista é mal remunerado?

A escola de jornalismo, e é assim que deve ser entendida - se trata de uma espaço de aprendizagem, de experimentação, de desenvolvimento de novas técnicas, de pesquisa de novas possibilidades profissionais, sociais para a profissão - é o ambiente propício para que seja estabelecida uma consolidação profissional, um espírito de corpo. E este processo deve ser realizado, principalmente, nos estudos sobre ética no jornalismo, considerada uma das principais disciplinas em qualquer curso universitário das carreiras autônomas.

Enquanto os cursos de jornalismo não compreenderem a importância da formação de classe profissional, é urgente o entendimento, entre os profissionais no mercado de trabalho, que os seus interesses sociais, trabalhistas, técnicos, de qualificação somente terão respaldo, respostas na medida que a entidade de classe, hoje representada pelos sindicatos de jornalistas, receba uma forte adesão, se fortaleça para que possa representar os jornalistas de forma contundente, qualificada e, principalmente, representativa. Não é mais possível que os “profissionais" das redações, das empresas, das instituições sejam compostos por pessoas não qualificadas ou em posição precária.

Comentário anterior retrata que, entre os estudantes de jornalismo, muitos nem sabem onde fica a sede da instituição que representam a classe profissional.



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