Ciência do Jornalismo e formação

Opinião | Segunda-feira, 03 de Outubro de 2011 - 04h47 | Autor: Gerson Luiz Martins


Pode-se começar esta reflexão com uma pergunta. Quanto lê um estudante de jornalismo? Todos sabem e isso é recomendação geral de professores, de todos os artigos de pesquisadores e profissionais, nas entrevistas dos jornalistas famosos, principalmente da mídia televisão, que não há profissional de jornalismo sem leitura, muita leitura.

No período de formação universitária, recomenda-se e há uma insistência chata para que os estudantes leiam os principais livros da formação jornalística, clássicos, e além disso, por força da própria profissão, a leitura cotidiana, ressalve-se, cotidiana de jornais, hoje seja no suporte impresso ou na internet. De qualquer forma é imprescindível que o estudante de jornalismo saiba, minimamente, o que acontece na sua cidade, no seu país e no mundo. Este tema foi motivo de artigos produzidos anteriormente, publicados no Correio do Estado, Tribuna do Norte de Natal (RN) ou aqui no O ESTADO MS. Basta fazer uma busca na internet para resgatar essas reflexões.

Há alguns anos professores de jornalismo comentavam que seria inadmissível que um estudante de jornalismo não tivesse o hábito diário de leitura de pelo menos um jornal. Hoje, com a internet, com acessibilidade - gratuita na maioria das vezes - diária e incessante dos principais jornais, o requisito, ou melhor, a obrigação dos estudantes de jornalismo ler os jornais todos os dias é condição estratégica para a qualificação e boa formação em jornalismo.

Os estudos de jornalismo se desenvolveram de forma quantitativa e qualitativa nos últimos 20 anos. Hoje é possível falarmos em ciência do jornalismo. Há uma quantidade significativa de estudos, ensaios, pesquisas qualitativas e quantitativas sobre o fenômeno do jornalismo. Esses estudos estão publicados em dezenas de revistas científicas, livros e apresentados no mais diversos congressos específicos de jornalismo.

Essa profusão de estudos é subsídio indispensável para uma formação qualificada dos estudantes de jornalismo. Dos mais diversos títulos de livros, das mais diversas revistas cientificas, quais e quantos são de conhecimento cotidiano dos estudantes? Muitos responderão inúmeros nomes, títulos, que, provavelmente, estarão restritos entre os clássicos requeridos pelos professores nas disciplinas mais comuns. Pode-se arriscar que das centenas de títulos de livros, os estudantes conhece menos de 10%. Das dezenas de revistas cientificas, de jornalismo, talvez não conheçam uma sequer!

Durante o período de formação, os estudantes, inevitavelmente, conhecem a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. O que é isso? Será a pergunta a seguir, embora a maioria conheça esta associação! Acontece que esta "Sociedade" é mais conhecida pela sua sigla, Intercom! E as entidades específicas do jornalismo? Afinal a opção profissional e, portanto, o curso universitário escolhido é o Jornalismo. Que entidades de jornalismo existem, além da Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj, que não é uma entidade de estudos, pesquisas, mas profissional? Quais entidades, grupos, associações de pesquisa, de ensino, de estudos em jornalismo são conhecidas pelos estudantes? E por que deve-se conhecer ou participar dessas entidades?

Conhecer e participar dessas entidades pela simples razão de que é, nesses espaços, onde se produz ciência do jornalismo e que subsidiam os estudos e a formação universitária em jornalismo. Como mencionado em artigos anteriores, a formação universitária em jornalismo não pode se dar ao luxo de apenas reproduzir técnicas jornalísticas. A escola universitária de jornalismo deve produzir conhecimento em jornalismo, desenvolver a pratica jornalística.

Assim como nas demais áreas de formação profissional e científica, o estudante de jornalismo necessita estar sintonizado com o desenvolvimento de sua profissão, sob a risco de ficar defasado e se tornar um técnico, reproduzir, cotidianamente, as ações básicas da atividade jornalística, quase como uma autômato que reproduz ações sem pensar.

Este artigo é o primeiro de uma série, sobre a ciência do jornalismo. O objetivo é demonstrar que o jornalismo, assim como a matemática, a química, o direito, a sociologia é um campo científico, com um objeto definido de estudos e uma metodologia de trabalho. E, assim como a sociologia e outras ciências sociais, seu método é múltiplo, sempre com foco no desenvolvimento das comunidades.



www.gersonmartins.jor.br



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